Manuel Martins Ferreira de Matos (1862 - 1941)
Comendador da Ordem de Cristo (1932); Comendador da Ordem da Benemerência (1932)
Manuel Martins Ferreira de Matos nasceu em Alfena, no lugar de Baguim, às 23 horas do dia 18 de Dezembro de 1862, primeiro filho do casal Francisco Martins Ferreira e Albina Moreira da Silva Matos. Neto paterno de Manuel Martins Ferreira e de Custódia Moreira e materno de António Moreira Duarte e de Ana Moreira da Silva Matos. Os avós paternos residiam no lugar da Igreja, enquanto que os maternos residiam na Várzea – Alfena.
Foi baptizado na Igreja Paroquial de Alfena, no dia 21 de Dezembro, pelo Reitor António Tomé de Castro, sendo padrinho o seu tio materno, Manuel Moreira Duarte de Matos, casado, negociante no Rio de Janeiro, representado por seu pai (e avô materno do baptizado), António Moreira Duarte; a madrinha foi Maria Amália da Silva Matos (esposa do padrinho e também residente no Rio de Janeiro), representada pela sua sogra (e avó materna do baptizado), Ana Moreira da Silva Matos.
No dia 2 de Junho de 1875 foi padrinho de baptismo da sua irmã Ana, baptizada na Igreja Paroquial de Alfena.
No dia 12 de Dezembro de 1876, foi-lhe concedido o seu primeiro passaporte, por 30 dias, para o Rio de Janeiro – Império do Brasil, onde consta ter 13 anos, 1,40m de estatura, rosto redondo, cabelo, sobrancelhas e olhos castanhos, nariz e boca regulares e cor “natural”, bem como a ausência de sinais particulares. Rumou para o Brasil, para junto dos seus tios maternos, Manuel e Francisco Moreira Duarte de Matos.
No Brasil foi empregado na Vieiras, Mattos & Cia., à Travessa do Comércio, 6, antigo Arco do Telles, no Rio de Janeiro, empresa produtora e comercializadora de sal, na qual o seu tio Francisco era sócio, tendo ascendido a sócio da empresa em Dezembro de 1890.
Em 8 de Setembro de 1894, sendo residente da Rua de Costa Cabral – Porto, casa na Igreja Paroquial de São Veríssimo de Paranhos com Isabel de Sousa Pereira Meireles, irmã de um sócio da Vieiras, Mattos & Cia, Albano de Sousa Pereira Meireles, sendo uma das testemunhas do casamento, José Joaquim Vieira, antigo sócio e fundador da citada sociedade, também residente na Rua de Costa Cabral.
Em 22.01.1902, pelas 10 horas, nasce na Travessa do Comércio, 7, na freguesia da Candelária (Rio de janeiro – Brasil) a sua única filha, Idalina Pereira de Matos.
Em 1908 retira-se da sociedade Vieira, Mattos & Cia.
Instala-se em Matosinhos, onde constroi as «Sete Casas» de Brito Capelo (numa entrevista à RTP, em Dezembro de 2019, o Arq. Álvaro Siza Vieira referiu ter passado a sua infância na casa da sua avó, uma dessas sete casas construídas por um «brasileiro» de Alfena; e, à nossa Associação, referiu que privou com o senhor Comendador, chegando mesmo a passar umas férias na sua Quinta em Alfena).
Sabemos que, pelo menos, em 1921 já residia em Matosinhos e, em Março de 1923, residia especificamente na Rua de Brito Capelo.
No dia 15 de Julho de 1921, pelas 18 horas, falece no lugar da Curia – Anadia, a sua única filha, Idalina Matos, sendo sepultada no mausoléu da família, no Cemitério Paroquial de Alfena.
No dia 3 de Agosto de 1922 foi-lhe concedido, provavelmente, o seu último passaporte, para o Rio de Janeiro – Estados Unidos do Brasil, por Leixões ou Lisboa, na companhia da sua esposa, onde consta ter 59 anos, 1,73m de estatura, rosto redondo, cabelo, sobrancelhas e olhos castanhos, nariz e boca regulares e cor “branca”, bem como a ausência de sinais particulares; já a esposa constava ter 48 anos, 1,58m de estatura, cabelo, sobrancelhas e olhos castanhos, nariz e boca regulares e cor “branca”, bem como a ausência de sinais particulares. As fotos constantes do processo de emissão dos passaportes denotam bem o luto do casal pela perda recente da única filha.
Em 19 de Abril 1925 temos registo da oferta do relógio para a torre da Igreja Paroquial de Alfena;
Em 25 de Junho de 1925 oferece a quantia de 10 contos (aproximadamente 50 euros, em conversão directa para a moeda actual, sem levar em conta a desvalorização do escudo; aplicando o coeficiente legal de desvalorização da moeda, o equivalente actual seriam 9.610,84€) para a aquisição de uma parcela de terreno dos antigos passais da Igreja, para nele se construir um edifício para Escola Primária e casa dos professores, operação concretizada através do Decreto 10.929, de 17 de Julho de 1925.
Certamente para evitar o erro do seu tio (e padrinho) que tinha feito idêntica liberalidade, entretanto perdida nas burocracias da Câmara Municipal de Valongo, Manuel Martins Ferreira de Matos vai dirigir pessoalmente as obras a partir de 3 de Agosto de 1925, data na qual a Junta de Freguesia o informa que se pode dar início às mesmas. Segundo os jornais da época, as obras terão custado cerca de 300 contos (1500 euros, em conversão directa, ou, aplicando o coeficiente legal de desvalorização da moeda, 288.325,14€).
A Escola Primária de Alfena (Escola Idalina de Matos) é festivamente inaugurada em 27 de Junho de 1927, em cerimónia presidida pelo Ministro da Instrução, Dr. Alfredo de Magalhães.
Em Janeiro de 1931 é proposto para Comendador da Ordem da Benemerência, mas o processo acaba por se arrastar um pouco.
Num processo bem mais rápido, em 1 de Abril de 1932, sendo proprietário e residente à Rua Guerra Junqueiro, 232, em Matosinhos, é agraciado pelo Presidente da República, General António Óscar Fragoso Carmona, com o grau de Comendador da Ordem Militar de Cristo, podendo ler-se na fundamentação da proposta:
“Grande benemérito dos concelhos de Matosinhos e Valongo, doador do edifício escolar de Alfena. Grande benemérito de hospitais e da Confraria do Bom Jesus de Matosinhos.”
Em 5 de Outubro de 1932, sendo proprietário/capitalista e residente à Rua Guerra Junqueiro, 232, em Matosinhos, e em Baguim – Alfena, é agraciado pelo Presidente da República, General António Óscar Fragoso Carmona, com o grau de Comendador da Ordem da Benemerência, podendo ler-se na fundamentação da proposta:
“É um benemérito do Concelho de Valongo, tendo contribuído com inúmeras verbas para várias casas de assistência. A pobreza vê neste cidadão um protector desvelado pois à sua volta socorre todos aqueles que se lhes acercam, tanto em medicamentos, como em muitos e variados géneros. Nem só à pobreza este cidadão acorre, pois que à instrução também tem dado muitas dádivas, ofertando por último uma escola. É digno da menção honrosa que se lhe vai conferir” e “Praticando actos da mais alta benemerência. No seu concelho é considerado um benemérito. As dádivas com que tem concorrido para várias corporações são importantíssimas elevando-se a alguns milhares de escudos. Construiu uma cabine de energia eléctrica completamente aparelhada, construção de uma ponte sobre o rio Ferreira e respectiva estrada municipal, construção de um edifício escolar, doando carros automóveis adaptados a prontos socorros e macas às corporações de bombeiros voluntários de Valongo e Ermesinde”.
Do processo ainda se pode ler:
“É um verdadeiro espírito de benfeitor. Cavalheiro de grande fortuna sempre tem mostrado a sua vontade de fazer bem, principalmente em obras de utilidade pública para a sua terra.
Vive há bastantes anos em Matosinhos, embora daqui não seja natural.
Na sua terra natal, Alfena (concelho de Valongo), a sua acção benemérita é qualquer coisa de grande. Começou por reconstruir a Igreja e o passal; fez de seguida uma avenida e, há 5 anos, construiu e entregou ao Estado o edifício das escolas de Alfena, para ambos os sexos, com moradia própria para os professores. Só esta obra importou em mais de 300 contos. A sua inauguração foi feita pelo Exmo. Senhor Dr. Alfredo de Magalhães, então Ministro da Instrução. Quis este ministro então oferecer-lhe uma condecoração que o benemérito Mattos não aceitou.
Não ficaram por aqui os benefícios feitos à sua terra. Acaba agora de fazer a instalação da iluminação eléctrica para a freguesia, tendo-lhe custado somente a cabine de transformação mais de 60 contos.
Em Matosinhos, não é menos assinalada a sua acção, embora mesquinhas questões pessoais tenham infelizmente entravado a sua acção, numa altura em que se anunciavam as maiores benemerências para a terra, isto aquando da sua estada à frente da Confraria do Bom Jesus, a verdadeira Casa de Misericórdia do Concelho. Ainda assim, e apesar de só ter ocupado o lugar de Juiz da Confraria por 2 escassos meses, despendeu cerca de 30 contos numa obra que o pode e deve apontar como o juiz mais benemérito dos últimos tempos.
Desgostoso com a injustiça dos homens, recolheu-se então à sua apagada vida de família. Depois de repetidas instâncias, porém, e apesar de tão ingratamente ter sido apreciado, acaba de aceitar o lugar de Presidente da Comissão de Assistência Concelhia, de cuja obra já se anunciam grandes benefícios para Matosinhos.
Tal é, em poucas linhas, o carácter de benfeitor a quem queremos homenagear, como prova de reconhecimento por tantos benefícios já prestados e ainda como incitamento ao desejo sincero que o snr. Ferreira de Mattos vem mostrando, ultimamente, na continuação da sua obra benemérita.”
Grande benemérito dos concelhos de Matosinhos e Valongo, doador do edifício escolar de Alfena. Grande benemérito de hospitais e da Confraria do Bom Jesus de Matosinhos.”
Nesse ano de 1932, instala na sua Quinta de Baguim a primeira cabine eléctrica da freguesia de Alfena e convence um conjunto de proprietários alfenenses a formar uma Cooperativa para rentabilizar a distribuição, em baixa tensão, da energia eléctrica.
Na acta da sessão da Junta de Freguesia de 18 de Dezembro de 1932 (precisamente o 70.º aniversário do senhor Comendador) consta a seguinte referência:
“Foi deliberado, na sessão de hoje, retirar do cofre trezentos escudos para ajuda da inauguração da luz eléctrica pública e particular que hoje se vai realizar às quinze horas nos salões das escolas , aproveitando a ocasião de também se fazer uma festa ao Ex.mo sr. Manuel Martins Ferreira de Matos e sua Ex.ma Esposa D. Isabel de Sousa Pereira de Matos, pelos benefício que tem feito nesta freguesia, os quais são: as escolas, o relógio da torre, a frontaria em azulejos da Igreja, cabine pública e electrificação da Igreja”.
Em 22 de Fevereiro de 1941 fez testamento e, entre outros legados, deixou à Comissão Fabriqueira da Igreja de Alfena 70 acções da Companhia de Fiação e Tecidos de Crestuma com estas obrigações à dita Comissão: dar anualmente 100 escudos ao Seminário Episcopal do Porto; dar 30 escudos a cada um dos dois postos escolares e 50 escudos a cada uma das 4 escolas de Alfena, aos alunos mais bem classificados; zelar pelo seu jazigo no Cemitério de Alfena, inclusive pondo velas no dia dos Fiéis Defuntos e de São Vicente (padroeiro da freguesia); dar anualmente cem escudos ao pároco de Alfena para este velar pelo zelo do seu jazigo
Faleceu aos 78 anos, na sua Quinta de Baguim, em Alfena, no dia 5 de Outubro de 1941, sendo sepultado no mausoléu de família do Cemitério Paroquial de Alfena.
O senhor Comendador encontra-se homenageado na toponímia de Alfena através da Rua, Travessa e Praceta Comendador Matos, e na de Matosinhos através da Avenida Comendador Ferreira de Matos (paralela à Avenida D. Afonso Henriques).