Paróquia de São Vicente de Queimadela (actual Alfena)

Villa de Alfena

Inquirições de D. Afonso III (1258)

Aqui começa a inquirição da vila chamada de Alfena e dos paroquianos da igreja de São Vicente do mesmo lugar.

João Anes, do mesmo lugar, jurado e interrogado, disse que toda a vila de Alfena, tendo a estrada (1) pelo meio, de um lado, fica o termo da Ferraria, e da outra parte é o termo da vila que se chama Traslecia, em frente a Traslecia; e disse que toda a vila de Alfena é dos Leprosos. (2)

Quando perguntado se eles estão pagando algum foro ao Senhor Rei, ele disse que não. Interrogado se ali entrava o Mordomo, (3) disse que não. Quando perguntado porquê, ele disse que por causa da Honra de Dom João Pires da Maia.(4)

Quando perguntado sobre a propriedade do Senhor Rei na Ferraria, que eles próprios trabalham e do modo como pagam o foro ao Senhor Rei, ele disse que eles pagam oito denários, por cada casal, em cada mês.

Interrogado de quantos casais haviam naquela vila, disse que não sabia. Interrogado se ali entrava o Mordomo, disse que não.

Quando perguntado por que ele não entra lá, ele disse que, desde quando Dom João Pires da Maia comprou aquela propriedade, ele nunca entrou lá, e sempre entrou lá antes, e ele mesmo o viu entrar lá muitas vezes.

E ele disse que ele com seus irmãos paga oito denários, anualmente, e Martinho Domingues com seus irmãos paga oito denários, anualmente, ao Senhor Rei.

E Martinho Gonçalves e João Miguéis, Dom Pedreiro, cada um deu testemunho, palavra por palavra, como o primeiro.

(traduzido a partir do latim original do Portugaliae Monumenta Historica – Inquisitiones, fl 507 e 508)

(1) estrada medieval do Porto para Guimarães.

(2) Gafaria de Alfena.

(3) Cobrador de impostos.

(4) João Pires da Maia, chefe da casa dos da Maia, Tenente da Terra da Maia e o 1.º Senhor da Honra de Alfena.

 

Ponte de Alfena (ou de São Lázaro)

Inquirições de D. Dinis (1307)

Freguesia de São Vicente de Queimadela, o Paço de Alfena, com toda a villa, dizem as testemunhas, que o trazem os Gafos (1) por Honra, por razão que foi de D. João Pires da Maia e deu-lha por sua alma. E porque era honrada no tempo de D. João Pires, trazem-na eles assim.

Continue como está.

(extraído do Livro 1 de Inquirições de Além-Douro da Leitura Nova, fl 44v)

(1) Leprosos

Brasão dos «da Maia» - Livro do Armeiro-mor; Casa Real, Cartório de Nobreza, liv. 19; fls 100v; Lisboa; Arquivo Nacional-Torre do Tombo; 1509

Carta de Foro da Azenha dos Gafos de Alfena – D. João Rodrigues de Briteiros (1311)   (1)

Saibam todos quantos este instrumento virem e ler ouvirem que em presença de mim Sancho Martins, tabelião de nosso senhor el-Rei, na Terra da Maia, e das testemunhas adiante ditas, Domingos Pires, dito Cavalinho, vigário de D. João Rodrigues de Briteiros na Quinta de Alfena mostram o que a mim dito tabelião fez ler e  ?  presentes os Gafos e Gafas do convento da Gafaria de Alfena. Uma carta de procuração de D. João Rodrigues de Briteiros, feita e selada nas costas com o seu verdadeiro selo, da qual eu faço o teor de ? ano ? uma coisa ?  ?  ? tal é.

Saibam todos quantos esta procuração virem e ler ouvirem que eu João Rodrigues de Briteiros, (2) tendo em encomenda os gafos e gafas de Alfena, por eles gafos e gafas e por seu outorgamento, faço, ordeno e estabeleço por meu certo verdadeiro e ? procurador especial suficiente e ? como melhor e mais cumpridamente pode e deve ser e mais valer, Domingos Pires Cavalinho, meu vigário e dos ditos Gafos e Gafas, portador desta presente procuração, que ele, em meu nome e dos ditos gafos e gafas, faça e mande fazer um instrumento em prazo de firmeza a Miguel Pires, dito Perro, e sua mulher Joana Cibrães, cidadãos do Porto, e a todos seus sucessores para todo sempre duma azenha que é em a Vila de Alfena, por três libras de denários portugalensis que os de uso direitos Miguel Pires e sua mulher e seus sucessores hão de dar, em cada um ano, aos ditos Gafos e Gafas para todo o sempre da dita azenha e por dois morabitinos velhos que deles esses gafos e gafas receberam por entrada e de mais uma pitaça.

Dou comprido poder ao sobredito Domingos Pires para fazer e mandar fazer o dito instrumento em prazo de firmeza, aos ditos Miguel Pires e sua mulher e seus sucessores para todo o sempre pela mão de qualquer tabelião ou tabeliães a quem esta minha procuração for mostrada os quais ao qual eu rogo e mando que o façam mui forte e mui firme qual o dito meu vigário e meu procurador mandar fazer e que o ponham em seus registos assim como é seu uso e seu costume. E eu ?  ?  firme e ? para todo o sempre o instrumento em prazo que aos de uso direitos pelo dito meu vigário e meu procurador for feito e selo e registado no Contrato de uso direito só obrigação de minha vez e dos ditos Gafos e Gafas, assim como o direito manda. E em testemunho de tal coisa dei ao dito meu vigário e meu procurador esta minha procuração nas costas do meu selo.

Testemunhas: Fernão Garcia do Rego, cavaleiro; Martim Briteiros; (3) Pedro Alves; Martim Martins, abade de São Salvador de Briteiros; Pedro Fernandes, escudeiro; e outros muitos.

Feita em Briteiros seis dias de Abril Era de mil trezentos e quarenta e nove anos. (4)

A qual procuração mostrada e lida o dito Domingos Cavalinho procurador disse que como Dom João Rodrigues de Briteiros tendo a comenda dos Gafos e Gafas de Alfena por outorgamento de sua Linhagem daquele lugar de Alfena que fez Dom João Pires da Maia, seu avô, e Dona Guiomar Mendes, sua avó, emprazasse e desse por prazo em outro tempo a Estevão Domingues, dito Penetas, e sua mulher Maria Martins, em outro tempo cidadãos do Porto, uma azenha, a qual eles ambos haviam de fazer do lugar que chamam a Ferida do Malho (5) até ao fundo do Pomar dos Gafos (6) e na Água de Leça e no Herdamento dos Gafos para tal fito essa tal condição q os ditos Estevão Domingues e Maria Martins, sua mulher, fizessem essa azenha à sua custa e que houvessem eles, e seus sucessores, a metade dessa azenha, de todas suas entradas e pertenças ou saídas, para todo o sempre e os Gafos e Gafas haverem a outra metade, e isto fosse depois que a dita azenha fosse feita e adrençada directamente para moer. A devesse ser feita azenha de uso direito até ao dia de São Miguel de Setembro da era de mil trezentos e trinta e três anos (7) assim como a meu tabelião destas coisas foram feitas fé por um instrumento feito por mão de Pedro Salgado, tabelião de Guimarães, e de seu sinal assinado e selado do selo pendente do dito Dom João Rodrigues, assim como nesse instrumento aparecia. 

O dito Domingos Cavalinho, procurador, dizendo que os ditos Estevão Domingues e sua mulher prometeram a dita azenha fazer, deixaram-na depois de fazer e de cada vez por grande tempo, de guisa que os Gafos e Gafas não haviam nem houveram prol da dita azenha, passado por quinze anos e mais, por tanto tempo que os ditos Estevão Domingues e sua mulher perderam já todo direito que haviam na dita azenha. E que por esta razão, vendo e entendendo o dito Dom João Rodrigues a prol dos Gafos e Gafas de uso direitos mandou a ele e deu-lhe comprido poder de mandar fazer o instrumento em prazo da dita azenha aos ditos Miguel Pires e sua mulher e todos seus sucessores para todo o sempre. E porém o dito Domingos Pires Cavalinho, procurador de mandado do dito Dom João Rodrigues, segundo ele dizia em poder da procuração de uso e selo deu e outorgou para todo o sempre a Miguel Pires, dito Perro, e sua mulher Joana Cibrães, cidadãos do Porto e todos seus sucessores que depois deles vierem para todo o sempre, a dita azenha, pelos lugares que ora são aforados e devisados na dita água de Leça e no Herdamento dos Gafos e Gafas por tal fito e por tal condição que eles ambos e cada um deles e todos os seus herdeiros e sucessores façam e refaçam e contenham e adubem à sua custa essa azenha e azenha feita e refeita e contida e adubada por toda sua custa para todo o sempre como direito e em guisa que moa bem e adrençadamente. Eles ambos e cada um deles e todos seus herdeiros e sucessores que depois deles vierem haviam para todo o sempre dessa água e levada e rego e todas as suas pertenças e direitos e as suas entradas e saídas e dêem, em cada um ano, para todo o sempre, pela festa da Páscoa, aos ditos Gafos e Gafas três libras de denários portugalensis por todos os direitos e no mais, e por dois morabitinos velhos e uma pitaça que os ditos Gafos e Gafas receberam dos ditos Miguel Pires e sua mulher, segundo o dito procurador confessou. 

E o dito Domingos Pires Cavalinho, por o dito Dom João Rodrigues procurador era e por os ditos Gafos e Gafas vigário era e em seus nomes deles.

E o dito Miguel Pires  por si e por a sua mulher e por todos os seus sucessores, prometeu manter e guardar e cumprir todas estas coisas ? e cada uma delas e não vir contra elas em juízo, nem fora de juízo e promete que as não aguardar ou contra elas vir perante a outra parte que as aguardar duzentos morabitinos velhos de denários portugalensis de pena, a qual pena pagada ou não este instrumento e as coisa que nele são certas fique para sempre em esta firme fortaleza.

Feito foi este instrumento e outorgado e confirmado pelos Gafos e Gafas do Convento de Alfena à Ponte de Alfena, sete dias de Abril. Era de mil trezentos e quarenta e nove anos. (4)

Testemunhas que presentes foram: Lourenço Martins, Martim Gonçalves, Martim Domingues, Silvestre Pires, Agostinho Gaspar, Martim ?, vizinhos de Alfena e homens de Dom João Rodrigues, e outros.

E eu Sancho Martins, tabelião de uso direito, este instrumento com a minha mão escrevi e meu sinal e nele ? que tal é. E a maior firmeza desta coisa e que este instrumento e este contrato haja maior firmeza e seja mais valioso para todo o sempre e que depois não possa vir em dúvida, eu, João Rodrigues de Briteiros fiz por em este instrumento meu selo pendente.

 (pergaminho existente no ANTT – Fundo do Convento de Santa Clara de Entre-os-Rios)

(1) Aforamento da Azenha dos Gafos (actualmente conhecido como o «Moinho dos Eusébios»)

(2) João Rodrigues de Briteiros, 3.º Senhor da Honra de Alfena, filho de Rui Gomes de Briteiros e Elvira Anes da Maia, neto materno de João Pires da Maia.

(3) Martim Anes de Briteiros, filho de João Rodrigues de Briteiros e futuro 4.º Senhor da Honra de Alfena

(4) Era Hispânica ou de César, corresponde ao ano 1311 da Era de Cristo

(5) o lugar da «Ferida do Malho» surge-nos em outros documentos e, embora não tenhamos ainda conhecimento da sua localização exacta, podemos avançar que se situe junto da extrema entre Alfena e Água Longa

(6) o lugar do «Pomar dos Gafos» julgamos tratar-se do campo mais tarde conhecido pelo «Campo dos Gafos à Gafaria» que se situa a jusante da Ponte de Alfena

(7) Era Hispânica ou de César, corresponde ao ano 1295 da Era de Cristo

Brasão dos Briteiros