Paróquia de São Félix do Coronado (actual São Pedro Fins)

Aldeia de Quintã

Inquirições de D. Afonso III (1258)

Aqui começa a inquirição da aldeia chamada da Quintã (1) e dos paroquianos da Igreja de São Félix do Coronado. (2)

Domingos Esteves, do mesmo lugar, jurado e interrogado de quem é aquela Igreja, disse que era do Mosteiro de Rio Tinto. (3)

Perguntado de onde, ou desde quando, e como a adquirira, disse que a possuía há muito tempo, e que a adquirira por testamento de Dom Diogo. E disse que viu sempre o Mosteiro a apresentar ali, e para a apresentação do próprio Mosteiro o Bispo do Porto o nomeou no mesmo. Interrogado se ali pagam algum foro ao Senhor Rei, disse que não.

Ao ser perguntado se aquele que tinha a tenência da Terra deveria parar lá, ele disse que não.

Interrogado de quantos casais havia naquela aldeia, disse que eram doze casais, e daqueles doze casais, são quatro de Vicente Curutelo, (4) e dois são de D. Maria de Baguim, (5) e dois são daquela Igreja, e um é dos Hospitalários, (6) e outro de Águas Santas (7) e dois são de Santo Tirso. (8)

Quando perguntado se o Mordomo entra lá ou se deve entrar lá por direito, ele disse que costumava entrar lá, mas agora ele não entra lá. Quando lhe perguntaram porque não entrava ali agora, disse por causa de Dona Maria de Baguim (4) e por causa dos sogros dela. (9)

Interrogado onde as Ordens tinham obtido aqueles casais, disse que não sabia. Interrogado de ali havia algum Reguengo, disse que não.

 

Do mesmo modo, disse que na villa que se chama Arcos havia dez casais, e desses dez casais, são quatro de Santo Tirso, (7) e um de Cete, (10) e outro é de Pedro Nunes de Outiz, e outro é do Mosteiro de Oliveira, (11) e três são do Mosteiro de Rendufe. (12) Perguntado de onde as Ordens tinham esses casais, ou de que época, ele disse que as tinham por testamentos de cavaleiros. Interrogado se entrava ali o Mordomo, disse que entrava nos casais de Santo Tirso e de Oliveira, e nos outros não.

Questionado por que não entra nos outros como entra nestes, disse que por causa de João Gonçalves Cabeça, e Rodrigo Gonçalves Cabeça, e Pedro Queixada, que os estão defendendo e amparando. Ao ser perguntado se aqueles cavaleiros tinham a carta do Senhor Rei pela qual os defendiam, ou se aqueles casais eram coutados ou honrados, ele disse que não sabia de nada.

Perguntado que tipo de foro pagavam daqueles casais de Santo Tirso, disse de cada casal davam de renda, anualmente, ao Senhor Rei um quarto de morabitino, e do casal de Oliveira dão de renda um terço de morabitino, anualmente, ao Senhor Rei. Interrogado se dão vida ao Mordomo, disse que não; mas quando o Mordomo vem, se ele quer comer do tipo de vida que um homem tem, ele come sem antes ir embora.

 

E disse que na outra villa chamada de Leandro havia ali dez casais, e quatro eram de Santo Tirso, (8) e três são de Amador Fernandes de Panóias, e dois são dos netos de Fernando Gulfar, e o outro é de Afonso Fernandes, um certo escudeiro. Interrogado se entrava ali o Mordomo, disse que não. Quando perguntado porquê, disse que era honrada de antigamente. Ao ser questionado se foi honrada por carta ou pelos oficiais de justiça ou pelo pendente do Senhor Rei, ele disse que não sabia.

E ele disse que tinha ouvido muitas pessoas antigas falar que o Mordomo havia entrado lá, e os cavaleiros daquele lugar o mataram por isso.

 

E disse que na villa que se chama População havia lá seis casais, e eles eram herdeiros, e dão uma quinta parte de toda a produção aos Hospitalários, para que sejam protegidos de todos os foros reais. E disse que a Ordem do Hospital adquiriu metade daquela villa da mulher de Martinho de Guin. E disse que tinha ouvido dizer que Fernando Gulfar tinha abatido um dos porteiros que ali tinha estado para fazer penhor, e por isso nunca mais lá entrou. Indagado de onde as Ordens tinham esses casais, ou de que época, ele disse que dos testamentos de cavaleiros.

Perguntado se estava lá morando algum homem foreiro ou rendeiro do Senhor Rei, ou alguém que havia cometido um homicídio e ainda não o expiara, ele disse que não. Quando perguntado sobre todos os outros artigos, ele disse que não sabia nada sobre eles. Ao ser perguntado como ele sabe tudo o que contou, ele diz que viu e sofreu e, portanto, tem certeza de que é assim.

Martinho Gonçalves, Pedro Soares, Soeiro Gonçalves, Dom Viviano, Domingos Martins, Pedro Anes, Martinho Romeu, Domingos Mendes, Pedro Dias, Geraldo Martins, Martinho Pires, João Pais, Domingos Pires, João Gonçalves, Martinho Anes, Domingos Anes, todos deram este testemunho mencionado, palavra por palavra, cada um por si, como o primeiro.

(traduzido a partir do latim original do Portugaliae Monumenta Historica – Inquisitiones, fl 508)

(1) Aldeia da Quintã ou Quintela

(2) Nas Inquirições de D. Afonso III a paróquia aparece com a designação de «São Félix do Coronado», nas Inquirições de D. Dinis já nos aparece como «Sanfins do Coronado» e a partir do Século XVII vai começar a surgir o topónimo moderno «São Pedro Fins»

(3) O padroado da freguesia pertencia ao Mosteiro de Rio Tinto, que viria a ser extinto em 1536 e integrado no Mosteiro de São Bento de Avé Maria do Porto (onde hoje se encontra a Estação Ferroviária de São Bento).

(4) Vicente Martins Curutelo foi casado com Teresa Martins de Baguim, filha de Martim Soares da Maia de Baguim e de Maria Rodrigues de Baguim

(5) Maria Rodrigues de Baguim, casada com Martim Soares da Maia de Baguim (trovador e sobrinho de João Pires da Maia)

(6) Ordem dos Hospitalários cuja primeira sede em Portugal foi no Mosteiro do Bailio de Leça.

(7) Comenda de Águas Santas, sede da Ordem do Santo Sepulcro em Portugal, transferida, em 1489, para a Ordem dos Hospitalários

(8) Mosteiro de Santo Tirso de Riba de Ave, fundado no Séc. X pelo 1.º Senhor da Terra da Maia

(9) O Sogro de Maria Rodrigues de Baguim foi Soeiro Pires da Maia (irmão de João Pires da Maia).

(10) Mosteiro de São Pedro de Cete.

(11) Mosteiro de Santa Maria de Oliveira (Riba de Ave).

(12) Mosteiro de Santo André de Rendufe (Amares).

Brasão dos «da Maia» - Livro do Armeiro-mor; Casa Real, Cartório de Nobreza, liv. 19; fls 100v; Lisboa; Arquivo Nacional-Torre do Tombo; 1509

Inquirições de D. Dinis (1307)

Item freguesia de Sanfins do Coronado, a quintã de Martim de Podentes, (1) que chamam Quintela, é provado que a houveram honrada desde que se recordam as testemunhas e que foi do avô de sua mulher (2) e que por razão da honra desta quintã honram Quintela de Susão. (3) E Quintela de Susão que são cinco casais de mosteiros, e sete de fidalgos, e não sabem as testemunhas por que razão. Mas viram-lhas assim estar.

Fique como está.

 

Item, a quintã que chamam Leandro que é dos Gulfaros, é provado que a viram honrada desde que se recordam as testemunhas e duvida de longe. E honram toda a villa que são dois casais de fidalgos, e sete de Santo Tirso. (4) E dizem nunca ali viram entrar o Mordomo. Mais, ouviram dizer que entrou ali um Mordomo em tempo del’Rei D. Afonso, avô deste Rei, (5) a penhorar ali e levou de lá uma pele, e foi depois, ele seu avô dos Gulfarros e matou-o no Rio de Leça.

Fiquem como estão.

(extraído do Livro 1 de Inquirições de Além-Douro da Leitura Nova, fl 48v e 49)

(1) Martim Pires de Podentes, segundo marido de Teresa Martins de Baguim (que havia sido casada com Vicente Martins Curutelo).

(2) Teresa Martins de Baguim era filha de Martim Soares da Maia de Baguim e neta de Soeiro Pires da Maia.

(3) Quintela de Susão ou Quintela de Cima.

(4) Mosteiro de Santo Tirso de Riba de Ave.

(5) O avô de D. Dinis foi D. Afonso II.

Brasão real de D. Afonso III e D. Dinis