Quinto e último filho de um casal de agricultores do lugar de Vila Meã, Joaquim Ferreira dos Santos nasceu em 19 de Fevereiro de 1782. ⁽⁵⁾  Ao irmão mais velho Manuel, coube o património agrícola da família, como era de tradição; o segundo ⁽⁶⁾ seguiu a carreira religiosa, foi Pároco em S. Cosme de Gondomar, como vimos atrás.⁽⁷⁾⁽⁸⁾

Com a idade de 17 anos emigrou para o Brasil, recomendado a um familiar afastado. Fez parte do surto migratório, de adolescentes da classe média da época, relativamente instruídos, para o Brasil, ocorrido entre meados do Séc. XVIII e princípios do Séc. XIX, que alguns autores designam como «emigração dos caixeiros», que precedeu a emigração pobre, em massa, muito mais numerosa, para trabalhar nas plantações de café, em substituição da mão de obra escrava.^(7)(8)(9)

A melhoria substancial da alimentação básica proporcionada pela introdução da cultura do milho e da batata nesta região de Entre Douro e Minho, fez ocorrer, em curto espaço de tempo, um aumento significativo da população nesta região: não só aumentou a natalidade como fez baixar a mortalidade infantil. Era absolutamente normal haver casais com seis ou sete filhos, ou até mais. Sendo uma região de minifúndio, ao filho mais velho cumpria herdar e manter o património agrícola da família, como vimos atrás, aos filhos segundos restava a carreira religiosa, as armas ou a emigração.^(9)(10)

Chegados ao Brasil, os jovens caixeiros, em poucos anos sucediam aos donos do negócio, fosse por regresso do patrão à terra natal, pelo casamento com uma das filhas, ou fundando eles mesmos o seu próprio negócio. ⁽⁹⁾

Assim aconteceu com Joaquim Ferreira dos Santos, que em breve inicia o comércio com a Argentina e, após a compra do seu próprio navio, o brigue «Activo», desloca-se por duas vezes a Angola, onde estabelece relações com casas comerciais de Luanda e se relaciona com Régulos em Cabinda, aos quais adquire os escravos que depois vende no Brasil aos senhores de engenho, normalmente por troca directa por açúcar e outros produtos, tais como, peças de pano, ferragens, pólvora, vinho, aguardente, que vendia na ida, em Angola, já que na volta regressava ao Rio de Janeiro com o «Activo» pejado de escravos, até mais não caber.⁽⁷⁾⁽⁸⁾

Calcula-se que só o tráfico esclavagista lhe terá rendido cerca de 900 contos de reis, pela venda de mais de 10.000 escravos, entre 1816 e 1828.⁽⁷⁾⁽⁸⁾

Em 1832, depois de alguns incidentes que muito o desgostaram, em especial, a acusação de ter continuado o tráfico de escravos, então já proibido, regressa a Portugal, com o seu «Activo» carregado de açúcar e outros produtos de origem brasileira.⁽⁷⁾⁽⁸⁾

Desembarca em Lisboa, em 8 Setembro de 1832 e recomenda ao seu irmão o Padre António Ferreira Martins, Pároco de S. Cosme, para ir de sua parte beijar a mão de S. M. o Rei D. Pedro IV, então cercado na cidade do Porto, cuja expedição havia financiado, ainda no Rio de Janeiro, a pedido do, então, Imperador.⁽⁸⁾

De regresso ao Porto, retoma a sua actividade comercial em diversas áreas, adere à causa de Costa Cabral na qual se empenha ao ponto de colocar ao dispor da Junta Provisória os seus próprios capitais. Em troca, foi nomeado Par do Reino, depois nobilitado com os títulos de Barão, Visconde e Conde de Ferreira.⁽⁷⁾⁽⁸⁾

Deixou legados a asilos, confrarias, misericórdias, em especial a do Porto e do Rio de Janeiro. Não esqueceu os familiares, criados, afilhados e amigos. À sua afilhada D. Luísa, filha de Costa Cabral, deixou 60 contos de reis e 30 contos ao próprio Costa Cabral. Legou verba suficiente para a construção de 120 escolas, em sedes de Concelhos, incluindo casa para o professor. Com o restante mandou construir o hospital de alienados.⁽⁷⁾⁽⁸⁾