AL HENNA, em defesa do Património de Alfena

Sexta-feira, 09 de Julho de 2010, no rescaldo de uma célebre sessão extraordinária da Assembleia de Freguesia de Alfena, convocada para rectificar ou ratificar, ninguém sabe muito bem ao certo, os limites da freguesia, e depois de perceber que a esmagadora maioria dos presentes não tinham a mais pálida ideia do que estavam a discutir, fiquei com a certeza que a solução para este nosso problema teria que passar, necessariamente, pela chamada “Sociedade Civil”, uma vez que os responsáveis políticos não pareciam muito interessados na sua resolução, de uma forma responsável.

Foi então que surgiu a ideia de criação de uma associação que reunisse os contributos de várias pessoas conhecedoras do terreno e interessados na resolução definitiva e célere da questão, evitando-se animosidades e bairrismos locais que não conduziriam a parte alguma e que apenas serviriam para criar afastamentos entre comunidades vizinhas.

Das conversas entre amigos e dos atrasos provocados pela cegueira burocrática do nosso Estado, que quase impedia a utilização da designação escolhida desde a primeira hora para a associação, passaram alguns meses até que, numa manhã de Dezembro, seis “carolas” (Manuel Joaquim Oliveira, Arnaldo Mamede, Cláudia Dantas, Sérgio Sousa, Ricardo Ribeiro e Dário Teixeira) passaram da ideia à prática e quinhoaram para pagar a Escritura pública de constituição da AL HENNA – Associação para a Defesa do Património de Alfena.

Depois, veio o tempo de contactar mais algumas pessoas de modo a constituir os órgãos sociais e começar o trabalho no terreno. Conseguimos, de facto, reunir um grupo de pessoas interessadas e os resultados começaram a surgir. Da troca de conhecimentos aos documentos que se foram reunindo, das reuniões de trabalho às caminhadas dominicais que se foram fazendo, se foi construindo um trabalho colectivo que foi finalmente apresentado ao público, no nosso Centro Cultural, no passado dia 30 de Novembro de 2011, perante uma sala cheia de individualidades locais e alfenenses interessados.

É dessas conclusões, genericamente apresentadas em Novembro e complementadas por algum trabalho de pesquisa posterior, que versará este primeiro conjunto de artigos que, com a colaboração de “A Voz de Ermesinde”, tentaremos levar ao conhecimento dos leitores.

OBJECTO

Apesar de surgida na sequência da designada “Polémica dos Limites”, a AL HENNA não pretende reduzir a sua actividade a esta questão, por muito importante que ela seja, bem pelo contrário. Os instituidores quiseram deixar claro que o objecto da associação seria abrangente, na defesa do património secular da nossa cidade e não só.

Citando o artigo 1º dos Estatutos da AL HENNA, «a Associação para a Defesa do Património de Alfena tem por objecto a defesa e recuperação do património histórico, arqueológico, edificado, etnográfico, cultural e, bem assim, do património natural, paisagístico e ambiental da Vila de Alfena e zona envolvente; estudos e investigações nas várias áreas de interesse histórico-arqueológico, ambiental, cultural e socio-económico».

DESIGNAÇÃO

Ao contrário do que algumas mentes peregrinas, que infelizmente pululam na nossa cidade, depressa vieram afirmar do alto das suas cátedras, demonstrando dessa forma a sua profunda ignorância acerca das nossas origens como Povo, a designação escolhida para a nossa associação nada tem de «ódio» ou mesmo de «terror». Devemos ter também orgulho na nossa herança árabe e, de facto, a designação escolhida é uma expressão árabe que deu origem ao moderno topónimo português ALFENA.

AL HENNA é a designação árabe para o arbusto da família Oleaceae, comummente designado de Alfeneiro, Alfenheiro, Alfena ou Ligustro (Ligustrum vulgare) e muito comum nos espaços públicos da nossa cidade.

Na sua obra “Portugal Antigo e Moderno”, publicada em 1873, o historiador Pinho Leal refere: (1)

«É tradição que houve aqui no século VIII uma grande batalha contra os árabes, na qual entraram sete condes, e que d’ella lhe provém o nome; fundando-se em que alfena significa batalha, o que não é exacto, pois só significa planta. Enganam-se com a palavra árabe alhella, alfella, que significa acampamento ou arraial; mas não combate.

É pois incontestavelmente a palavra árabe alhenna (alfena). São as folhas de um arbusto semelhante à murta. No Oriente, tanto christãos como mahometanos, costumam, por ocasião de festa, amassar o pó d’estas folhas e cobrir as mãos e pés com esta massa, envolvendo-a em pannos, desde a noite até pela manhã. Quando se levantam sacodem o pó, e untam os sítios em que elle esteve, com azeite. Os membros assim preparados, adquirem uma cor encarnada que dura 15 a 20 dias (não saindo ainda que a lavem). Só porém as mulheres e creanças usam d’este enfeite. Os velhos, principalmente príncipes e grandes, tingem os cabellos da barba, com água d’estas folhas, o que lh’os torna encarnados».

Aliás, a associação deste arbusto à agora Cidade de Alfena é tal que o brasão de armas adoptado na sequência da elevação a Vila, em 1989, apresenta dois ramos de alfeneiro, um florido e outro frutado, ladeando o ex-libris da cidade, a Ponte de São Lázaro (ou Ponte de Alfena).

Em futuras oportunidades continuaremos a expor algum do trabalho desenvolvido pela nossa associação, sendo certo que estamos abertos à colaboração com qualquer pessoa interessada nestas questões da Defesa do Património, a nossa herança, que muitas vezes é comum a Alfena e Ermesinde, dada a proximidade e situação geográfica no curso médio do Leça.

Actualmente, a actividade da associação AL HENNA poderá ser consultada na página do facebook (www.facebook.com/ALHENNA.associacao), e brevemente também no sítio da internet da Associação (www.alhenna.pt), podendo qualquer interessado entrar em contacto connosco através do endereço de correio eletrónico (alhenna.associacao@gmail.com).

 

Por: Ricardo Ribeiro (*)

(*) Membro da AL HENNA – Associação para a Defesa do Património de Alfena.

(1) PINHO LEAL, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa dePortugal, Antigo e Moderno; vol. I, p. 117-118; Lisboa; Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia; 1873

Publicação original em 30.06.2012